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Testemunho #1:
Boa tarde a todos!
O meu nome.... bem, podem chamar-me Marisa, ou Sofia, ou
Mafalda, ou tantas outras coisas, o meu nome não interessa (não desvendo o meu
nome real, não por uma questão de me querer ocultar, mas porque ainda me
arrependo um pouco das coisas que fiz no passado... num passado muito recente).
Que sou instável e ''diferente'', já todos tinham visto. Poderia
ficar aqui a escrever uma lista:
- instável;
- emocional demais;
- de "extremos";
- impulsiva;
- por vezes deprimida, mas, segundos depois, explosiva;
- por vezes até desafiadora;
O que eu não sabia é que iria chegar ao extremo. Cheguei ao
extremo em 2012. O meu comportamento e a minha atitude piorou. Pior, comecei a
notar que as minhas atitudes não faziam muito sentido, mas não entendia porquê.
Envolvi-me numa trama interior que me tornou em algo que não
era, algo que não sou. Entretanto, já todos tinham reparado que não estava bem,
ou melhor, que estava mal, que precisava de ajuda médica. Entretanto, as
discussões com algumas pessoas pioravam a olhos vistos, outras optavam por se afastar.
Foi já no Outono que tive o diagnóstico de uma doença
mental. Bipolaridade.
Contei aos amigos que considerava mais chegados. Uns
continuavam chateados, mas outros, simplesmente, desapareceram - até ouvi o
argumento de não saberem lidar com isto de doenças mentais... e vindo de
pessoas em quem confiava. Deitou-me muito abaixo. Ainda tentei mais uma e outra
vez, totalmente em vão. Chorava diariamente, cada vez me sentia mais em baixo.
À medida que que tentava lutar, era pior. Não acreditava em quase ninguém.
Porquê? Praticamente ninguém entendia. Tudo à minha volta era pânico, porque
não tinha nem vontade de acordar de manhã.
E a medicação? Medicações e medicações. Só uma tinha o
efeito desejado, era um antidepressivo, mas depressa esse sintoma deixou de ter
importância, porque as restantes medicações causavam enjoo, sensação de
desmaio, ficar mais consciente do pânico, sonhos muito reais, sono durante todo
o dia... sentia-me uma verdadeira zombie, sem verdadeira razão de viver.
Tinha desistido. Passava dias e dias a pensar como seria se
um dia desaparecesse e cada vez isso se tornava uma imagem de algo bom para o
mundo.
Cheguei ao fim do Inverno praticamente só com 3 pessoas que
achava que me valorizavam e já com algumas tentativas de suicídio e idas ao
hospital somadas. Mas só as pessoas em falta me importavam, o resto não... sem
ninguém, para quê importar-me com algo como viver?
Acho que já estávamos quase na Primavera quando tentei mais
uma vez suicidar-me. Fui parar ao hospital, graças a pessoas que se importaram.
Já não aguentava o sentimento de rejeição e de substituição e rotulagem. Já
todos estavam como que à espera de mais um "ato desesperado desta aqui que
sou eu".
Não consegui lidar com a vergonha de sobreviver e
"todos" saberem do que se passou e praticamente ninguém falar disso.
Fez-me sentir totalmente alvo de repreensão, julgada por tudo e por todos, até
por mim própria. Desejava ter realmente morrido, porque cada vez isso me fazia
sentir com menos vontade de interagir e de sair de casa. Nesta altura, só
falava com uma pessoa. Uma pessoa que acompanhou todo este meu percurso e
graças a quem depois comecei a aperceber-me que eu era melhor que isto.
Pedi-lhe para ir comigo à nova psiquiatra que tinha. Sentia
medo da realidade a vir. Foi uma surpresa, ela retirou-me a medicação toda e
receitou-me um antidepressivo mais fraco. Não resultou, mas já não me sentia
tão drogada. Estava ainda a ser acompanhada também por uma equipa de saúde
mental a quem hoje tenho muito a agradecer.
A partir do fim da Primavera, comecei a mudar. Começou por
ser pela medicação, um antidepressivo bastante conhecido que me mudou a vida,
tal como um antidepressivo que "não presta como tal, mas como medicação
para dormir é óptimo".
Comecei a sentir os efeitos de terapias alternativas em
pleno (como poderia dizer "rir é o melhor remédio"). Inscrevi-me em
formações e conheci pessoas novas, algumas das quais ainda hoje falo. Criei um
laço com uma amiga que também tem uma doença mental, mas que agora também está
bem. Comecei a praticar mais desporto - tanto mais mentais como físicos -, a
sair mais, a combinar mais saídas, com variadas pessoas. A minha equipa de
saúde deu-me os parabéns por todos os meus esforços.
Acima de tudo, aprendi a ter saudades. Sim, tenho saudades
de bastantes pessoas que já não fazem parte da minha vida. Algumas das quais
até fui eu que as afastei de uma forma nada graciosa, no fundo do meu poço de
depressão e doença. De outras, simplesmente, não sinto nada. Evolui tanto que
não sei se faria sentido voltar a fazer parte das suas vidas e elas da minha.
Fiz novas amizades, comecei a traçar mais o meu perfil e o meu desenvolvimento
pessoal como algo meu e bom. Aprendi que o estigma existe, até mesmo na camada
médica (é tabu, é feio), sobretudo no que não se trata de doenças "da
moda".
Não há um dia, nem que por meros segundos, em que não pense
nos que gostava de ter na minha vida... sim, ainda tenho saudades, tuas, tuas,
tuas,...., tuas.... mas tendo distrair-me, porque já tenho esclarecido que isso
nunca mais vai acontecer.
Tenho projetos novos. Alguns irão realizar-se, se calhar.
Vários até podem ficar pelo caminho, mas o que interessa é que tentei.
Aprendi a ouvir. A viver. A viver bem, praticando o bem e
sentindo o bem.
Há quem diga que estou mesmo no caminho da cura. Não sei....
Mas sinto-me bem! :) Sinto, sem exagero, nem impulsividade. Apenas sinto e
sinto-me mais normal... normal, até! A doença mental pode ser controlada e até
vencida! Não acreditava nisto há uns 11 meses, mas agora é uma realidade!
Beijinhos e abraços grandes a todos os que se identificarem
com isto.
Obrigada a todos os que me ajudaram, em especial à RA, à MF
e à FR.
Com a esperança que um dia a doença deixe de ser um rótulo,
Marisa, Sofia, Mafalda, ou qualquer outro nome que
prefiram... pode acontecer a qualquer um de nós.
P.S - Alguns sintomas de distúrbios de personalidade podem
ir desde mudanças bruscas de humor devido a factores externos, dramatização
exagerada, mentiras por se sentirem abandonados e quererem agradar a todos para
não ficarem sós, carências emocionais e afectivas, .... se suspeitarem que
alguém sofre de uma destas doenças ou qualquer outra doença do foro mental ou
não, tentem com que essa pessoa procure ajuda médica.