20 de agosto de 2013

#1 Quero Ajudar!


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Testemunho #1:

Boa tarde a todos!
O meu nome.... bem, podem chamar-me Marisa, ou Sofia, ou Mafalda, ou tantas outras coisas, o meu nome não interessa (não desvendo o meu nome real, não por uma questão de me querer ocultar, mas porque ainda me arrependo um pouco das coisas que fiz no passado... num passado muito recente).
Que sou instável e ''diferente'', já todos tinham visto. Poderia ficar aqui a escrever uma lista:
- instável;
- emocional demais;
- de "extremos";
- impulsiva;
- por vezes deprimida, mas, segundos depois, explosiva;
- por vezes até desafiadora;
- ...



O que eu não sabia é que iria chegar ao extremo. Cheguei ao extremo em 2012. O meu comportamento e a minha atitude piorou. Pior, comecei a notar que as minhas atitudes não faziam muito sentido, mas não entendia porquê.
Envolvi-me numa trama interior que me tornou em algo que não era, algo que não sou. Entretanto, já todos tinham reparado que não estava bem, ou melhor, que estava mal, que precisava de ajuda médica. Entretanto, as discussões com algumas pessoas pioravam a olhos vistos, outras optavam por se afastar.
Foi já no Outono que tive o diagnóstico de uma doença mental. Bipolaridade.
Contei aos amigos que considerava mais chegados. Uns continuavam chateados, mas outros, simplesmente, desapareceram - até ouvi o argumento de não saberem lidar com isto de doenças mentais... e vindo de pessoas em quem confiava. Deitou-me muito abaixo. Ainda tentei mais uma e outra vez, totalmente em vão. Chorava diariamente, cada vez me sentia mais em baixo. À medida que que tentava lutar, era pior. Não acreditava em quase ninguém. Porquê? Praticamente ninguém entendia. Tudo à minha volta era pânico, porque não tinha nem vontade de acordar de manhã.
E a medicação? Medicações e medicações. Só uma tinha o efeito desejado, era um antidepressivo, mas depressa esse sintoma deixou de ter importância, porque as restantes medicações causavam enjoo, sensação de desmaio, ficar mais consciente do pânico, sonhos muito reais, sono durante todo o dia... sentia-me uma verdadeira zombie, sem verdadeira razão de viver.
Tinha desistido. Passava dias e dias a pensar como seria se um dia desaparecesse e cada vez isso se tornava uma imagem de algo bom para o mundo.
Cheguei ao fim do Inverno praticamente só com 3 pessoas que achava que me valorizavam e já com algumas tentativas de suicídio e idas ao hospital somadas. Mas só as pessoas em falta me importavam, o resto não... sem ninguém, para quê importar-me com algo como viver?
Acho que já estávamos quase na Primavera quando tentei mais uma vez suicidar-me. Fui parar ao hospital, graças a pessoas que se importaram. Já não aguentava o sentimento de rejeição e de substituição e rotulagem. Já todos estavam como que à espera de mais um "ato desesperado desta aqui que sou eu".
Não consegui lidar com a vergonha de sobreviver e "todos" saberem do que se passou e praticamente ninguém falar disso. Fez-me sentir totalmente alvo de repreensão, julgada por tudo e por todos, até por mim própria. Desejava ter realmente morrido, porque cada vez isso me fazia sentir com menos vontade de interagir e de sair de casa. Nesta altura, só falava com uma pessoa. Uma pessoa que acompanhou todo este meu percurso e graças a quem depois comecei a aperceber-me que eu era melhor que isto.
Pedi-lhe para ir comigo à nova psiquiatra que tinha. Sentia medo da realidade a vir. Foi uma surpresa, ela retirou-me a medicação toda e receitou-me um antidepressivo mais fraco. Não resultou, mas já não me sentia tão drogada. Estava ainda a ser acompanhada também por uma equipa de saúde mental a quem hoje tenho muito a agradecer.
A partir do fim da Primavera, comecei a mudar. Começou por ser pela medicação, um antidepressivo bastante conhecido que me mudou a vida, tal como um antidepressivo que "não presta como tal, mas como medicação para dormir é óptimo".
Comecei a sentir os efeitos de terapias alternativas em pleno (como poderia dizer "rir é o melhor remédio"). Inscrevi-me em formações e conheci pessoas novas, algumas das quais ainda hoje falo. Criei um laço com uma amiga que também tem uma doença mental, mas que agora também está bem. Comecei a praticar mais desporto - tanto mais mentais como físicos -, a sair mais, a combinar mais saídas, com variadas pessoas. A minha equipa de saúde deu-me os parabéns por todos os meus esforços.

Acima de tudo, aprendi a ter saudades. Sim, tenho saudades de bastantes pessoas que já não fazem parte da minha vida. Algumas das quais até fui eu que as afastei de uma forma nada graciosa, no fundo do meu poço de depressão e doença. De outras, simplesmente, não sinto nada. Evolui tanto que não sei se faria sentido voltar a fazer parte das suas vidas e elas da minha. Fiz novas amizades, comecei a traçar mais o meu perfil e o meu desenvolvimento pessoal como algo meu e bom. Aprendi que o estigma existe, até mesmo na camada médica (é tabu, é feio), sobretudo no que não se trata de doenças "da moda".

Não há um dia, nem que por meros segundos, em que não pense nos que gostava de ter na minha vida... sim, ainda tenho saudades, tuas, tuas, tuas,...., tuas.... mas tendo distrair-me, porque já tenho esclarecido que isso nunca mais vai acontecer.

Tenho projetos novos. Alguns irão realizar-se, se calhar. 
Vários até podem ficar pelo caminho, mas o que interessa é que tentei.

Aprendi a ouvir. A viver. A viver bem, praticando o bem e sentindo o bem.
Há quem diga que estou mesmo no caminho da cura. Não sei.... Mas sinto-me bem! :) Sinto, sem exagero, nem impulsividade. Apenas sinto e sinto-me mais normal... normal, até! A doença mental pode ser controlada e até vencida! Não acreditava nisto há uns 11 meses, mas agora é uma realidade!



Beijinhos e abraços grandes a todos os que se identificarem com isto.
Obrigada a todos os que me ajudaram, em especial à RA, à MF e à FR.

Com a esperança que um dia a doença deixe de ser um rótulo,

Marisa, Sofia, Mafalda, ou qualquer outro nome que prefiram... pode acontecer a qualquer um de nós.

P.S - Alguns sintomas de distúrbios de personalidade podem ir desde mudanças bruscas de humor devido a factores externos, dramatização exagerada, mentiras por se sentirem abandonados e quererem agradar a todos para não ficarem sós, carências emocionais e afectivas, .... se suspeitarem que alguém sofre de uma destas doenças ou qualquer outra doença do foro mental ou não, tentem com que essa pessoa procure ajuda médica.

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